Trinta do Tetra Hoje completa-se 30 anos do Tetra brasileiro. E também da maior aventura que vivi em 37 anos como jornalista profissional. Dallas, 16 de Julho de 1994. Após transmitirmos a decisão de 3o lugar, convenci a Adherval Barros de anteciparmos nosso trecho entre Dallas e Los Angeles para tentar assistir à final em Pasadena. Não tínhamos ingressos mas tentaríamos alguma desistência ou até comprar aos cambistas. No dia seguinte, já na região metropolitana de L.A. paramos o carro a cerca de 5 km do estádio e fomos trotando sob um calor de 45 graus até o Rose Bowl. Faltavam 15 minutos .
O jogo começaria meio-dia. Fomos nos Stands das emissoras saber se alguma emissora teria desistido, ou se havia tickets disponíveis para a venda. Que mané ingresso que nada! O restinho estava nas mãos do cambistas sendo vendidos a 5 mil dólares. “Nóis liso?!? Como é que faiz?” Foi quando vi no bolso do espalhafatoso esquente de Adherval dois ingressos. O que é isso, perguntei. Os ingressos do jogo de ontem, respondeu. Fiz um olhar sinistro pra ele e disse: olha as nossas entradas aí! Dherva perguntou se eu estava maluco, falou em cadeia, delegacia, xilindró americano! Retruquei: no xadrez tem televisão. Se é pra ver a final pela tv prefiro assistir lá do que aqui ao lado do estádio….
O acesso…
Nos ingressos, havia uma pontinha picotada que entregaríamos no portão de acesso. A mais importante informação no ticket era o número do jogo. O que nós tínhamos em mãos possuíam o número 53, referente à decisão do 3o lugar. As abreviações dos times eram minúsculas. SWE x BUL (Suécia x Bulgária). Pedi pra Adherval segurar o ingresso com o dedão em cima do número 53. O da final, obviamente, era 54. O jogo já havia começado. Fomos correndo até o portão. Havia uma funcionária dentro da guarita e um policial do lado de fora. Ela sorrindo e desejando sorte, destacou a pontinha dos ingressos e depositou na urna. A gente saiu correndo pras escadarias quando ouvimos: “Stop, man!!”Gritou o guarda. Suando frio e esperando a voz de prisão, aguardamos estáticos. Ele queria nos revistar por que Adherval tinha uma máquina fotográfica no bolso da calça do esquente. Após o susto, que quase nos provoca uma molhadeira nas bambas pernas, entramos. O susto maior ainda estava por vir.
Como evidentemente não tínhamos assentos marcados, ficamos no cantinho, encostados num muro ao final de uma das rampas, quando outro policial 2×2 falou em inglês: quais são os seus assentos? E nos pediu os ingressos. Pensei: É o fim! Será que tem realmente tv na cadeia? O caba de dois metros então falou com certa ironia: “ Oh, Camon! Adherval tava calculando se a gente morreria ou somente se quebraria todo, se pulássemos lá de cima. Disse o guarda-roupa: It’s not here… there!!! E apontou para o outro lado. “Thank’s Sr.” respondi e fomos pro outro lado. Sentamos em duas cadeiras vazias.
Os retardatários iam chegando e a gente se deslocando até que, em determinado momento, rasgamos os tickets e jogamos fora. A partir dali, nem Bill Clinton nos tiraria daquele estádio. Deixando claro, que não sentimos orgulho do que fizemos e que não queríamos ludibriar ninguém. Arriscamos muito. Apenas queríamos ver o Brasil ser campeão. E valeu a pena!Quanto ao jogo, vocês assistiram…