Nos anos setenta, a televisão pernambucana era incipiente. Assistíamos aos videoteipes dos jogos no Canal 2, duas horas após os clássicos. Uma voz grave, com um timbre forte e um português correto, era a responsável pela transmissão da emoção do jogo que já havia terminado. “A torcida do (nome do time) começa a vibrar… Porque o (nome do time) inaugura (amplia) o placar…”. Esse era o bordão que identificava e caracterizava um dos mais queridos jornalistas pernambucanos de todos os tempos: Kleiber Bezerril Beltrão. Em 1995, ele me convida para transmitir um jogo em Brasília pela Rádio Nacional. Aposentado do Banco Central, Kleiber formou uma equipe esportiva e queria um narrador. Estava eu começando na função de Gerente de Futebol do Náutico. Recebi o convite e fui transmitir a final da terceira divisão do Brasil entre Gama x XV de Piracicaba, no Cerejão. A partir dali, virei locutor da emissora com maior potência no país. 600khz. Meu pai escutava-me em Santa Maria da Boa Vista, no alto sertão pernambucano. Beltrão, em 1996, conseguiu a Rede Nacional de Rádio e passamos a transmitir para o país inteiro. De América x Santo Amaro, como terceiro narrador da querida Rádio Jornal aqui em Recife, passei a narrar os principais jogos realizados no Brasil, em cada final de semana. Vasco 4×1 Flamengo (jogo que consagrou Edmundo), São Paulo 3×1 Corinthians (volta de Raí), Grêmio 2×0 Portuguesa (título brasileiro de 1996). Tive o privilégio de relatar esses, e vários outros eventos, para todo o país. Bezerril era tão generoso que, apesar de também ser narrador, priorizava a minha transmissão. Virei fã da sua postura, das suas atitudes e do seu cavalheirismo. Perdemos Kleiber nesse domingo. Aos 74 anos, Deus o convocou para uma nova missão no Céu. Mestre, generoso, cordial, fidalgo, educado, meigo, carinhoso e paterno amigo: Obrigado por me conceber o privilégio de ter sido seu “aluno” e amigo pessoal. Obrigado pelo seu legado de caráter. Jamais esquecerei a sua voz pausada e elegante. Sentirei muito a sua falta física. Mas manterei sempre vivos, na minha mente, seus ensinamentos e atitudes. “A torcida celeste começa a vibrar…”.